quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Feliz Dia dos Pais!


Dia dos Pais
Dia dos Pais

Há quem entenda que se deva julgar uma pessoa mais pelas suas perguntas que pelas suas respostas. Então, lá vai uma pergunta instigante: – O que é ser pai? Justamente pela natureza da pergunta, talvez a gente prefira pedir “passagem para viajar” por Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa chamada Terra, com o autor moçambicano Mia Couto, e entrar de gaiato no diálogo com o fazedor de covas:

– Um dedo só não apanha pulga.

– O que quer dizer isso?

– Falta sempre o outro dedo.

Falta sempre um outro dedo, repete. Esse dedo está para além de toda a mão. E mais, me aconselha: eu que não procurasse demasiado. Aprendesse a deixar os mistérios no seu devido estado. Homem sábio é o que sabe que há coisas que nunca vai saber. Coisas maiores que o pensamento.

Como nos versos de Fernando Pessoa:

... numa estrada / como é a vida / há muita coisa / incompreendida...

Portanto, “va pensiero...” Vá, pensamento, sobre asas douradas. Vá e pouse sobre as encostas e as colinas verdes de Verdi. Pois a vida é para ser vivida com os pés no chão e a cabeça entre as estrelas; e o mundo é para ser contemplado de joelhos. Perplexidade ante os mistérios que desafiam nossa inteligência; humildade ante o milagre, o assombro da natureza, a maravilha da ciência.

- No caso, tornar-se pai não é difícil. Difícil é ser pai. Ser pai não é acontecimento; é acontecência. Nunca obra acabada.

Antes de nascer o mundo, Mia Couto, de novo, nos vai contar a história de um incerto pai que não sabia dar tamanho ao amor pelo seu filho. Certa vez ocorreu um incêndio no casebre em que viviam, pai e filho. O homem pegou o menino ao colo e se afastou da tragédia, caminhando pela noite adentro. Deve ter superado o limite deste mundo, pois quando, por fim, decidiu colocar a criança no chão da noite, reparou que já não havia terra. Restava um vazio entre vazios, rompidas nuvens entre desmaiados céus. Só então o homem concluiu: – Agora, só no meu colo meu filho encontrará chão.

Feliz Dia dos Pais!

Prof. Antônio de Oliveira