Dia dos Pais
Há quem entenda que se deva julgar uma pessoa mais pelas suas perguntas que pelas suas respostas. Então, lá vai uma pergunta instigante: – O que é ser pai? Justamente pela natureza da pergunta, talvez a gente prefira pedir “passagem para viajar” por Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa chamada Terra, com o autor moçambicano Mia Couto, e entrar de gaiato no diálogo com o fazedor de covas:
– Um dedo só não apanha pulga.
– O que quer dizer isso?
– Falta sempre o outro dedo.
Falta sempre um outro dedo, repete. Esse dedo está para além de toda a mão. E mais, me aconselha: eu que não procurasse demasiado. Aprendesse a deixar os mistérios no seu devido estado. Homem sábio é o que sabe que há coisas que nunca vai saber. Coisas maiores que o pensamento.
Como nos versos de Fernando Pessoa:
... numa estrada / como é a vida / há muita coisa / incompreendida...
Portanto, “va pensiero...” Vá, pensamento, sobre asas douradas. Vá e pouse sobre as encostas e as colinas verdes de Verdi. Pois a vida é para ser vivida com os pés no chão e a cabeça entre as estrelas; e o mundo é para ser contemplado de joelhos. Perplexidade ante os mistérios que desafiam nossa inteligência; humildade ante o milagre, o assombro da natureza, a maravilha da ciência.
- No caso, tornar-se pai não é difícil. Difícil é ser pai. Ser pai não é acontecimento; é acontecência. Nunca obra acabada.
Antes de nascer o mundo, Mia Couto, de novo, nos vai contar a história de um incerto pai que não sabia dar tamanho ao amor pelo seu filho. Certa vez ocorreu um incêndio no casebre em que viviam, pai e filho. O homem pegou o menino ao colo e se afastou da tragédia, caminhando pela noite adentro. Deve ter superado o limite deste mundo, pois quando, por fim, decidiu colocar a criança no chão da noite, reparou que já não havia terra. Restava um vazio entre vazios, rompidas nuvens entre desmaiados céus. Só então o homem concluiu: – Agora, só no meu colo meu filho encontrará chão.
Feliz Dia dos Pais!
Prof. Antônio de Oliveira