segunda-feira, 25 de maio de 2009

Curiosidades de Portugal

Ferrador luso resiste ao tempo e atua até como veterinário

Por Daniel Gil, da Agência Lusa

Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, 24 mai (Lusa) - É o último "ferrador das arribas" e presta serviço em toda a área do Douro Internacional, com solicitações para serviços nos dois lados da fronteira. Na Espanha, os veterinários o chamam para castrar animais.

Zé Ferrador é o apelido de José Preto, que sai todas as manhãs de Freixo de Espada à Cinta, de onde é natural, levando consigo uma safra ou bigorna, formão e grosa, entre outros utensílios necessários para a preparação de um animal.

Em um destes dias, a Agência Lusa o acompanhou a Mata de Lobos, aldeia fronteiriça na região de Figueira de Castelo Rodrigo.

Zé Ferrador levava consigo apenas quatro ferraduras e uma quarentena de cravos, comprados numa fábrica em Caíde, a única que conhece na região.

"Já fiz muitos cravos e ferraduras com estes calos que tenho nas mãos", disse o ferrador de 45 anos que, aos 17, aprendeu a arte junto do seu vizinho Manuel Diogo, que lhe ensinou os segredos do ofício.

Na Mata de Lobos, era esperado por um homem conhecido como Ti Correia, que o recebe junto ao cavalo do sobrinho, e está pronto para ajudar o ferrador segurando a pata do cavalo. O animal até era manso e não trouxe problemas ao trabalho - quase mecânico - de Zé Ferrador. Se fosse bravo, teria de ser amarrado para impedir algum coice inesperado.

Atuação

José Preto trabalha em toda a região dos rios Douro e Águeda Internacionais, nos distritos de Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo, e em todo o Noroeste Salamantino, a parte espanhola junto a estes dois rios.

"Tenho mais números de telefone espanhóis do que portugueses", afirmou, acrescentando que os vizinhos do outro lado da fronteira o procuram para castrações e "fazer certas operações", como tirar figueiras (feridas cancerosas) ou cistos.

A chamada é feita mesmo por veterinários que "até sabem, mas não querem sujar as mãos". Em toda esta região conhece apenas dois ferradores, já na casa dos 60 anos, mas que já não se deslocam para ver os animais.

O ferrador, porque a idade o permite e também porque é o único que presta serviço em domicílio na região transfronteiriça, chega a ter meses em que ferra de 40 a 50 cavalos para ferrar.

"Quatro patas 50 euros, o preço está feito" para ambos os lados da fronteira. E "burros é igual", disse José Preto, explicando que não cobra a viagem e oferece apenas o resultado da sua arte como selo de qualidade, porque "aqui não há garantias".

Por outro lado, Ti Correia, negociador de gado com a nostalgia dos homens que não reconhecem os tempos atuais onde "já quase não há gado nem agricultura", reclama de só trabalhar com burros mirandeses.

Persistência

A tradição pecuária nestas terras tem vindo a desaparecer, mas ainda existe um pequeno conjunto de pessoas que não querem arredar pé da tradição local.

Zé Ferrador acaba por ser o "sinal dos tempos" de hoje, quando não é preciso mais do que um ferrador em toda esta região. Entretanto, em Figueira de Castelo Rodrigo, começa a se revelar um potencial sucessor.

Ricardo Julião, de 20 anos, é filho de ferrador e aprendeu com o pai a amansar, desbastar e ferrar animais.

Confrontado com o desafio, respondeu: " é isto que quero fazer da minha vida".

Grande Daniel, parabéns pelo excelente artigo, enquanto outros tantos se preocupam em escrever somente a respeito da Tecnologia, mesmo sabendo que o seu uso exagerado proporciona cada vez mais o afastamento das pessoas em seu convívio quotidiano, você de forma simples e clara mostra o relacionamento feliz e à moda antiga: abraços >>> Marcão


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